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Beeshas do Brasil: Markito, o estilista preferido da era plumas & paetês

Em novembro de 2010, a revista "Joyce Pascowitch" trouxe uma extensa reportagem sobre o lendário estilista brasileiro Markito. Em janeiro, A Capa publicou também um resgate do famoso costureiro. E agora em junho, a coluna "Beeshas do Brasil" resgata novamente Markito – no mês em que se completam 28 anos de sua morte – ele faleceu em 4 de junho de 1983, vítima do HIV.

Marcus Vinícius Resende Gonçalves nasceu em 1952 em Uberaba, Minas Gerais. Com 12 anos de idade já fazia desenhos de vestidos e fantasias para uma escola de samba local. Aos 18 anos, em 1970, desembarcou em São Paulo e foi trabalhar no ateliê de uma butique.

Mas claro que isso era pouco para o talento deslumbrante do moço. Logo ele passou a ter um negócio próprio, vendendo roupas com sua grife pessoal. Suas criações eram influenciadas pelo glam rock e o glitter, além dos Dzi Croquettes – mas sem deixar de lado a sofisticação da alta costura.

Paetês eram a marca registrada de Markito. O final da década de 70, com o auge da era disco, consagrou de vez o estilista, que passou para a nova década como o grande mestre da moda moderna. Em 1982, ele chegava a vender 300 vestidos por mês e liderava 150 funcionários.

Nos 1980, todas queriam vestir Markito. Entre suas clientes famosas, estavam as atrizes Sandra Bréa (que também seria vítima da Aids, em 2000), Mila Moreira, Maitê Proença, Sonia Braga, Christiane Torloni, Marília Pêra; as cantoras Simone, Gal Costa, Vanusa, Fafá de Belém; e até Xuxa Meneghel. "Markito foi uma deslumbrante taça de champanhe", diz Marília Gabriela, amiga e cliente do estilista. Na capa do disco que lançou como cantora em 1982, Marília vestiu um modelito dele.

Entre as internacionais que vestiam suas criações, estrelas como Liza Minnelli, Diana Ross, Grace Jones, Bianca Jagger, Olivia Newton-John e Farrah Fawcett. Nas discotecas Studio 54, em Nova York, e Regines, em Paris, os vestidos dele roubavam a cena.

Workaholic assumido, o estilista trabalhava sem parar, diversificando atividades. Fez roupas para diversas áreas, incluindo figurinos para cinema – como o filme "Rio Babilônia" (82).

Markito ficava no ateliê – nos Jardins – das 9h às 21h, e depois ainda se jogava na efervescente vida noturna de então, dançando sem parar, com um pique invejável e inimitável. Afinal, era a fase áurea do final dos anos 70 e início dos 80 – exatamente a transição da era discoteca para o glamour absurdo dos 80.

No Brasil, em São Paulo, o cenário era a boate Gallery, templo dos ricos e famosos do início daquela década. Mulheres vaporosas desfilavam a bordo de criações dele, aumentando sua fama. Suas criações eram vendidas em lojas badaladas como a Henri Bendels em Nova York e a Fiorucci em São Paulo.

Quanto à sua sexualidade, Markito era gay assumido. No entanto, não foram poucas as mulheres que se apaixonavam por ele. O estilista tinha um charme viril que seduzia platonicamente as mulheres, clientes famosas ou não. Não seria absurdo imaginar que o novelista Cassiano Gabus Mendes se inspirou em Markito para criar o personagem Jacques Leclair (Reginaldo Faria) para sua novela "Ti-ti-ti" (1985/86). Mas Jacques apenas se fingia de gay para seduzir as clientes, ao contrário de Markito.

Infelizmente, a trajetória de Markito foi meteórica. Ele se tornou o primeiro nome famoso do Brasil a morrer vítima da Aids – então encarada como uma "peste gay". E foi no Gallery que Markito se despediu do Brasil. Em 5 de abril de 1983, comemorou lá seus 31 anos, recebendo os amigos. Depois partiu para Nova York, cidade que escolhera para morrer.

Ele faleceu em 4 de junho, e foi enterrado em Uberaba. Em sua cidade natal, a irmã do estilista, Monica Rezende Gonçalves, fundou um museu para registrar seu legado. Para visitar, basta agendar horário. O telefone de contato é (34) 3333-7438.

Markito marcou época na moda e inscreveu para sempre seu nome no olimpo dos grandes estilistas mundiais, além de ter vivido intensamente sua curta, mas estelar, existência. Uma autêntica Beesha do Brasil.

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