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Cinema e DVD: “Aquarela – As cores de uma paixão” é retrato delicado da homossexualidade

Delicado e esteticamente bem elaborado, "Aquarela – As cores de uma paixão" (Water Colors) é um daqueles filmes que agradam no que tange a semântica e a sintaxe da narrativa cinematográfica: o roteiro é excelente e a parte técnica colabora com o desenvolvimento do enredo, num intenso trabalho de direção, fotografia, performances e uma belíssima trilha sonora.

Daniel Wheeler (Tye Olson, ótimo) se torna amigo do campeão de natação, Carter Melman, conhecido como o garoto de ouro da escola. Sem a mãe, Carter vive uma relação conflituosa com o pai. Próximo a um campeonato de natação, Carter vai passar uns dias na casa da mãe de Daniel, por indicação (imposição, diria) do seu pai. Se logo de início eles travam um contato um tanto embaraçoso, mais tarde temos uma paixão ardente aflorando, principalmente por parte de Daniel, o elo delicado da relação. Enquanto Daniel ajuda Carter nos estudos, aprende a sair da concha e extravasar a sua sexualidade reprimida, principalmente pelo fato de sofrer abusos diariamente na escola. 

Metalinguístico aos extremos, o enredo dialoga muito bem com Romeu e Julieta, de Wiiliam Shakespeare, e apresenta enquadramentos que são verdadeiros delírios para os amantes da pintura: os diálogos entre Daniel e a sua professora de arte são bem construídos e estão a todo instante colaborando com a narrativa bem adornada.

Guiado por um piano dá conta do recado ao hipnotizar o espectador nas cenas mais dramáticas, "Aquarela – As cores de uma paixão" recebe auxílio da direção de arte, que sabe o momento certo para usar o cinza e o azul, cores simbólicas no que tange a dor, o sofrimento dos personagens.  A câmera habilidosa também registra as performances com base em muitos primeiros planos e contra-planos: uma série de acertos.

Como não poderia deixar de ser, há o estereótipo da amiga gordinha do gay sofrido da escola. Diversas outras narrativas sobre o tema, maravilhosas em seu conteúdo semântico e sintático, também apelam para este recurso, ampliando as dimensões da história, incluindo personagens verossímeis e que contribuem de alguma maneira para o desenvolvimento do enredo. Parte do sucesso do filme está na cumplicidade de seu elenco, em atuações contidas, ainda que emocionantes.

Com 105 minutos de duração, "Aquarela – As cores de uma paixão" é uma narrativa delicada sobre amor, sexualidade e espiritualidade. As poucas cenas de sexo são apenas a ponta do iceberg de um filme que tem muito a oferecer e que merece ser assistido por todos. Confira.

* Leonardo Campos escreve quinzenalmente neste espaço sobre cinema e lançamentos em DVD. É pesquisador em cinema, literatura e cultura da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e professor de literatura.

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