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Cristãos odeiam homossexuais felizes

Eu tento, juro que tento, mas não consigo. Não dá pra não falar de assuntos, digamos, religiosos em tempos como os que estamos vivendo. Então, já que é impossível deixar de abordar tal temática, vamos lá…
 
Esta semana, as igrejas cristãs (evangélica e católica) se uniram em Brasília numa marcha contra a tramitação do PLC 122/2006 – aquele projeto conhecidíssimo de todos que criminaliza a homofobia. Com faixas, cartazes, hinos de louvor, saias jeans e blusas floridas e muito cabelão comprido, o "povo de Deus" se levantou e foi para frente do Congresso dizer que era contra a aprovação de tal projeto de lei. Daí, muitas coisas me deixam, assim, um tanto quanto curiosa…
 
Eu fui católica, daquelas fervorosas, que orava em línguas e tinha todos os CDs do padre Marcelo Rossi e, nesta época, fui testemunha de muitas coisas (que hoje me fazem querer ficar a quilômetros de distância de um banco de igreja). Fui testemunha, sobretudo, de como católicos discordam completamente do comportamento e da visão dogmática dos evangélicos. E o mesmo ocorre no meio protestante. Já vi, por exemplo, muitos católicos e evangélicos discutindo sobre a virgindade da mãe de Jesus e sua importância no panteão celeste. Meu irmão mais velho, por exemplo, quando "encontrou Jesus" (e nem foi o Jesus Luz), quis quebrar todos os santinhos que minha mãe tem. Pode isso? Enfim, mas o fato é que, mesmo com tantas divergências e rivalidades, essas duas denominações conseguem se unir plena e pacificamente quando o inimigo são os homossexuais. Ah, meu amor, pra atacar os veados vale tudo… Se duvidar, crente reza até Ave Maria e católico dá um dízimo de 10% para a bispa Sônia.
 
Outra coisa que me deixou pensativa foi o fato de Bolsonaro, o tal deputado sem muita importância e sem projetos, ter se juntado a este grupo e, mais, este grupo de cristãos ter acolhido tão fraternalmente em sua manifestação um sujeito que é declaradamente a favor da tortura, que diz que quem procura osso é cachorro (se referindo aos parentes das vítimas de tortura na Ditadura Militar), que é a favor da surra para corrigir um filho com tendências homossexuais. Mas espera aí: não são os cristãos que pregam pelo amor, pela caridade, pela paz? O que significa, então, este casamento tão perfeito entre eles e o deputado? Cadê toda a prática cristã? Parece que isso pouco importa, quando o babado é atacar os homossexuais, seja com ideologias, seja com agressões, seja com a privação da cidadania da população LGBT.
 
Ainda uma outra coisa que me deixou passada no dendê, que até comentei no meu perfil do Facebook, foi o fato de como as pessoas são "conduzidas", ou melhor, são induzidas a sair de suas casas e manifestar em frente à sede do governo, alegando que milhões de brasileiros não devem ter o amparo do Estado para assegurar sua cidadania. Que as pessoas saiam às ruas para exigir direitos, eu até entendo, mas que alguém manifeste algo que não vai ter a menor importância em suas vidas privadas? Das duas uma: ou é alienação pura ou é loucura. Tenho pra mim que seja um híbrido…
 
Fico boba como alguém pode se dizer religioso e temente a Deus, afirmando que prega o amor, manifestar contra uma lei que irá, pura e simplesmente, proteger os homossexuais de sofrerem com o preconceito e a violência.

Mas sabe, estava pensando… Isso não é necessariamente uma causa dos cristãos. Isso é coisa de gente que não tem o que fazer, gente que é mal amada, mal resolvida. Porque conheço inúmeros cristãos que convivem muito bem com homossexuais e até concordam com uma legislação que criminalize a homofobia.
 
Outra coisa que é muito importante lembrar é que, diferente do que diz Bolsonaro, Malafaia e companhia limitada, é que não é a população brasileira que é contra o PLC 122, mas sim uns poucos fanáticos religiosos e outros tantos homofóbicos de carteirinha que estão se sentindo ameaçados.
 
Afinal, quem não é homofóbico, não tem porque temer… Certo?
 
Tá dado o recado…
 
Beijo, beijo, beijo… Fui… Ah! Só pra lembrar, hoje é meu aniversário. Já sou uma mulher que entrou na casa dos trinta…

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