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Disco Fever comemora 13 anos com festa na SoGo; Leia entrevista com o DJ Mauro Borges

Na década de 1990 a cena clubber tomou força no Brasil, e São Paulo era o eixo de todas as novidades. Os clubes da cidade se tornaram verdadeiros templos, nos quais a figura do DJ passou a ser cultuada, drag queens tornarem-se personagens obrigatórios para a animação da festa e os go-go boys surgiram para despertar a sensualidade numa época em que erotismo era um tabu muito maior do que ainda é hoje.

Nesse cenário, uma casa teve papel fundamental na definição de cultura noturna presente até os dias atuais: a Disco Fever, que reunia todas as referências undergrounds das pistas europeias com um clima de brasilidade, o que a tornava o epicentro das tendências da noite paulista. Foi o berço de muitos profissionais que agora garantem a diversão das pistas pelo mundo afora, fez a cena gay ser reconhecida pela mídia nacional e até hoje é influência para muitos clubes do país.

No mês de maio completam-se 13 anos da inauguração da casa. Para comemorar, o projeto Profana, do clube SoGo, realiza um revival que promete reunir a galera veterana da Disco e mostrar como era o clima da lendária casa aos que não tiveram a oportunidade de conhecer.

O querido DJ Mauro Borges, que dispensa apresentações, foi o idealizador e responsável pela projeção da Disco Fever. Ainda à frente da marca – que já virou festa itinerante, CD e programa de rádio – nos conta um pouco da história do clube e todo o impacto que ele causou na rotina dos paulistanos descolados:

Após anos à frente do Massivo, você foi o responsável pela abertura de outra casa lendária na cena clubber do país, a Disco Fever. Em 1997, quando foi inaugurada, como era a noite de São Paulo?
A noite passava por um período de mesmice. O techno estava fortíssimo na época, com o Underworld, Chemical Brothers e, principalmente, o auge do Prodigy, mas o culto às divas andava em baixa, com Madonna saindo da fase Evita, por exemplo. A cena musical gay estava na busca por uma de identidade, foi quando no final daquele ano surgiu o novo house tribal, feito por Junior Vasquez, Victor Calderone, Hex Hector e Tony Moran, assim a coisa começou a mudar.

Quais foram as inovações que a casa trouxe e até hoje permeiam a cultura noturna da cidade?
Foi na Disco Fever que ocorreu essa explosão do house tribal, como o conhecemos. A Disco também lançou muitos DJs que atualmente são renomados, como o Renato Cecin e o Ricardo Motta. Foi lá também que Johnny Luxo teve sua primeira residência. Mas a principal, sem dúvida, foi a formação da primeira leva de gogo boys profissionais, o que nunca havia rolado antes no Brasil. O que existiam eram shows com strippers, mas nada no estilo dançarinos e animadores. E era difícil encontrar rapazes dispostos a se expor de cueca ou sunga, pois ainda havia muito preconceito no ar.

Falando em DJs, quais figuras da noite paulista passaram pela Disco Fever? Quem iniciou ou teve sua carreira projetada pela casa?
Uma lista de nomes que hoje são lendas na noite. As drags Ebony, Renata Bastos, Jota Mylanta e a inesquecível Hillary Daniels foram lançadas pela Disco. O próprio Johnny foi host, antes de ser DJ. Salete Campari, em sua fase pós-boate Gent’s, Kátia Miranda e Leia Bastos também foram hostesses do clube. A lista de DJs também é gloriosa, como o Marcelo Saturnino, Renato Lopes, Marcelo Celleda, André Medeiros, Dudu Marques e Abel, de Miami, entre vários outros.

Além do house tribal, a pista da Disco Fever fervia ao som de muito pop atual e clássico. O que não podia faltar nas pick-ups?
Tinha muita Madonna, Janet Jackson, Spice Girls, Victor Calderone, Gloria Stefan, Vernessa Mitchel, Stars on 54, Hex Hector, Thunderpuss, Whitney Houston, Mariah Carey e DJ Hell!

Frequentar a Disco Fever significava "ver e ser visto". Quem costumava passar por lá e quais eram os principais habitués?
De Vera Fischer à Claudia Cuba, já que foi um dos primeiro clubes a receber as trans.

Por isso era considerada a pista mais democrática da cidade, agregando diversas tribos e estilos. Qual era o segredo para reunir tamanha diversidade?
Não esquecer que estamos no Brasil.

Além de ter residido em vários endereços em São Paulo, tamanho era o sucesso da Disco Fever que ela também se tornou uma festa itinerante. Por quais locais ela passou e como eram as festas?
Na Rua Augusta, no endereço do antigo clube Nation, na Bela Cintra, Ibirapuera, Consolação. As festas seguiam temáticas, com muita produção, o que era cara dos anos 90.
 
Em todos esses anos, com certeza, a Disco Fever foi palco de muitas histórias. Conte-nos alguma inusitada.
Quando estivemos com a festa no Rio, o dono do clube gay carioca mais famoso na época pôs um banner na fachada da boate, que dizia: "Não deixem as paulistas invadirem a nossa praia!". (Risos) Hilário, íamos ficar só por um verão, e ele transformou numa guerra. (Risos)

Para a comemoração dos 13 anos da Disco Fever, que acontece neste sábado na SoGo, você reuniu uma turma que também marcou a época, como o DJ Marcelo Saturnino, a hostess Mylanta Plus e sua parceira do "Que fim levou Robin?", Elaine F. Como é rever essa galera novamente reunida e o que você espera do público?
Ao longo desse tempo, estabeleci uma relação muito intensa com esse público. Conheço-os pelo nome e, sempre que fazemos um revival, a festa bomba e parece reunião de família. Na Disco, tinha sempre aquele que se descobriu gay, aquela que arrumou uma namorada ou aquele que atendeu no banheiro, e a música que alinhava tudo isso.

De todo esse legado que você criou com a Disco Fever, o que mais te satisfaz?
É muito legal ver que muitas ideias do clube foram assimiladas por outras casas que vieram depois e que hoje go-go boy é um trabalho reconhecido em todo o país.

Serviço:
Profana Especial – Disco Fever 13 anos!
Sábado, 1º de maio, a partir das 23h
SoGo (Alameda Franca, nº 1368 – esquina com a Rua Bela Cintra)
(11) 3061-1759 / 3088-5737
www.sogo.com.br

Entrada:
R$ 30,00 e R$ 20,00 (com apresentação de flyer ou nome na lista)

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