in

Hipérboles de nossa militância: Tudo é homofobia ou merece menção

Nossa militância tem uma cultura, em alguns casos, que pessoalmente não me agrada: dos exageros.  Nossos militantes são bons articulistas e conseguiram bons avanços. No entanto, às vezes se cegam ao não analisar com cuidados ações de terceiros. Nem tudo na vida é homofobia, nota de repúdio ou menção ou pedido de retratação.  

Se algum político ou celebridade faz algo considerado positivo por alguns membros da nossa militância é digno de receber uma menção honrosa. Foi o caso do Ministro do Supremo Tribunal Federal que defendeu os direitos homossexuais no jornal “Folha de São Paulo”.  Uma pessoa que está no mais alto cargo da justiça brasileira não poderia fazer outra coisa. Seu artigo foi justo com os cidadãos, a lei, os direito individuais, a constituição… É tão aplaudível quanto os outros milhares de magistrados que em suas comarcas sentenciam a favor de transexuais, lésbicas e gays (Será que eles também receberam menção honrosa?). E as notas que parabenizam autores de novela e celebridades, sem o mínimo envolvimento com a causa? São mesmo necessárias? Em sua maioria são apenas falas de novelas, personagens…

As notas de repúdio e pedidos de retração são ainda mais exageradas e desnecessárias quando falamos em celebridades e suas ações. É o recente caso do ator e modelo Rodrigo Hilbert (FOTO) que foi obrigado a pedir retração por um “estou parecendo uma bichona” durante aulas de dança para o quadro “Dança dos Artistas”, do Domingão do Faustão. Como o próprio Hilbert lembra em sua resposta e pedido de desculpas, o bordão de Severino, personagem do humorista Paulo Silvino, não ofende a tal comunidade gay.  E não ofende mesmo. Eu não me senti ofendido. Aqui na Redação ninguém se sentiu.  Rodrigo diz em seu texto que é necessário respeitar para ser respeitado. E acho que ABGLT desrespeitou o ator.

“Fico um pouco triste em ter que me retratar por algo, que no fundo do meu coração, não teve a intenção de agredir, ridicularizar ou sequer constranger qualquer ser humano. Entendo que eu tenho, como pessoa pública, que exercitar uma fala e uma atitude politicamente correta, mas quando reflito a partir do meu coração, confesso que me sinto confuso. Por exemplo, chamo a minha mulher de pretinha. Será que eu só posso chamá-la assim porque ela é Loira? Se ela fosse negra, seria preconceito? Vejo meus amigos homossexuais se referindo entre iguais com o apelido de “Bi”, “Bi” de “Bicha”. Na minha intimidade, eles muitas vezes me chamam de “Bofe” e fazem brincadeiras de duplo sentido do tipo “Pena que você é “Bofe”. Será que deveria sentir-me ofendido?”, afirma Rodrigo em seu texto.  O ator, que não tem envolvimento político com nenhum causa, sabe discernir as situações, me envergonha saber que ABLGT não sabe.

Amigos militantes saibam que o politicamente correto é chato, careta e atrasa os avanços culturais. Não adianta proibir. Tem que ensinar o respeito pela diversidade. Quem nunca, em um momento de calor emocional, chamou alguém ou algo do que não deveria ou queria na hora? É emoção, pura e simples. E nós (seres humanos) somos cheios delas. Imagina se a Associação de Mães de Juízes e bandeirinhas de Futebol (nem sei se existe) pedisse retratação a cada torcedor que as ofendessem. Jesus amado, ó como seria triste. 

Ontem mesmo estava assistindo ao programa Manhattan Conection, especial com as meninas do Saia Justa, e uma das pautas em questão era exatamente o  tal do politicamente correto.  Para as pessoas públicas esse termo passou a ser visto como censura.  Pudera. Agora, todo mundo tem que ser politicamente correto. Não se pode mais ter opinião individual. Brincar mais. Se divertir sem medo de ofender um negro, gay, obeso, idoso, deficiente qualquer seja…

Concordo na hora de repudiar quando a ofensa é a comunidade.  A sentença do juiz Manoel Maximiano Junqueira Filho (caso Richarlyson) é um exemplo clássico disso. Acertadamente, a ABLGT fez uma carta de repúdio. Outros casos, como o repórter da Band que vetou um beijo gay e da censura do beijo na novela América também são bem vindo e tem um motivo político por trás.

Obs.: Será que a ABLGT está acompanhando o caso do Juiz Manoel. Gostaria, isso sim, de receber um carta da Associação falando que o juiz foi penalizado por sua sentença homofóbica.

Por fim, vou deixar o texto resposta do ator que acertadamente respondeu a ABLGT. Certo é ele que vive feliz sem medo do politicamente correto. Vivam, vivam!!!

Sr. Presidente Toni Reis,

"Estou parecendo uma Bichona”, bordão da personagem Severino, interpretado pelo grande humorista Paulo Silvino.

Quando na intimidade das aulas de dança para o quadro do Faustão eu repeti esse bordão, não imaginava que isso feriria a comunidade homossexual. Muito pelo contrário, tenho grandes amigos, dentre eles muitos são gays e mesmo sendo de uma cidade pequena, onde o convívio  a diversidade nem sempre é tão habitual, aprendi a respeitar as pessoas, independente de credo, raça, gênero  ou orientação sexual. Respeito para ser respeitado! Esse foi o principal valor que a minha humilde família, humilde em recursos financeiros, mas rica em valores éticos, me ensinou. No entanto, fico um pouco triste em ter que me retratar por algo, que no fundo do meu coração, não teve a intenção de agredir, ridicularizar ou sequer constranger qualquer ser Humano. Entendo que eu tenho, como pessoa pública, que exercitar uma fala e uma atitude politicamente corretas, mas quando reflito a partir do meu coração, confesso que me sinto confuso. Por exemplo, chamo a minha mulher de pretinha. Será que eu só posso chamá-la  assim porque ela é Loira? Se ela fosse negra, seria preconceito? Vejo meus amigos homossexuais se referindo entre iguais com o apelido de “Bi”, “Bi” de “Bicha”. Na minha intimidade eles muitas vezes me chamam de “Bofe”, fazem brincadeiras de duplo sentido do tipo “Pena que você é “Bofe”. Será que deveria sentir-me ofendido? Não sei, mas entendo que não, são meus amigos e temos segurança do laço que nos une, conhecemos uns aos outros, gostamos uns dos outros e isso é o que nos importa para seguir adiante. Sou vascaíno e quando tem jogo do Flamengo e Vasco, convido meus amigos para comerem um churrasquinho e assistirem o jogo comigo. Muitos desses amigos são flamenguistas e, independente do resultado do jogo, alguém será politicamente incorreto até o jogo seguinte, porque este é o pretexto para estarmos juntos, nutrindo a nossa amizade no nosso dia-a-dia. Tenho medo de um dia, por ser tão politicamente correto, passar a sensação, para as pessoas que gosto, de que meu coração esfriou.
Se um pedido de perdão pode ajudar a causa tão nobre da ABGLT, eu o faço dignamente, como prova do meu respeito, mas não reconheço culpa na minha intenção e muito menos no meu coração “politicamente incorreto” que, no entanto, não é menos respeitoso.
 
Rodrigo Hilbert
“O Belo Loiro”, “O loiro simpatizante”, “Bofe”, “Marido da Pretinha”

Chá com Bolachas

Indulgência