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Os gays e as putas não podem ser felizes?

Os cristãos não desistem das putas e nem dos gays. Na semana passada em que evangélicos tentaram se reunir pacificamente em prol dos não direitos dos gays, eles mesmos se tapearam com medo do colorido da nossa bandeira. Foi revelador a violência que um deles, pastor da Igreja Quadrangular, sofreu porque levantou uma bandeira colorida, que em nada tem a ver com a nossa, mas que possivelmente enganou muitos religiosos que acharam que era uma bicha assumida entre eles. O pastor, supostamente confundido com viado, foi violentamente expulso do evento, até que conseguissem entender que estavam cometendo mais um dos seus enganos. 
 
Mais agressivo do que os cristãos foi o ministro da saúde, sob conservadorismo semelhante, reiterou a postura retrógrada do atual governo em termos de direitos sexuais e reprodutivos: mandou tirar da internet uma campanha de prevenção ás DST/Aids voltada para as profissionais do sexo.  Quem gostou foi o Feliciano, que via Facebook divulgou que o ministro e ele conversaram por telefone sobre o caso.
 
A campanha revelava o que muita gente já sabia: dá pra ser feliz sendo puta! A mesma afirmativa serve para os gays, para os negros, para os indígenas e para as mulheres.  A despeito da onda conservadora e de violência que vivemos, não precisamos todos nos tornar cristãos, brancos, heteros, não-ínidos ou homens para sermos felizes. Mas, claro que poderíamos ser ainda mais alegres e contentes se o governo fizesse o seu papel em termos de políticas públicas para diminuir a nossa vulnerabilidade por sermos todos diferentes. 
 
Como podem observar o momento não é nada esperançoso. Algo semelhante já ocorreu em meses atrás com a censura que a campanha para gays sofreu do mesmo ministério no período do carnaval, e com o material educativo realizado em parceria com a UNESCO que ele também censurou e não permitiu que fosse distribuído nas escolas para adolescentes. O conteúdo dessas cartilhas tratava, por exemplo, da prevenção da gravidez na adolescência. 
 
Isso tudo sem falar no KIT Anti Homofobia (aquele chamado de Kit Gay pelos conservadores) que Dilma censurou sob a hipócrita frase: “Não vai ser permitido a nenhum órgão do governo fazer propaganda de opções sexuais…”. Alguém avise a presidenta que para a sexualidade serve a mesma regra que para a política: quando não há resistência ao já estabelecido ou apoio aos que estão morrendo por serem discriminados, mantêm-se no centro da valorização e no poder hegemônico aquilo que há mais tempo tem reinado, ou aquilo que há mais tempo se tem valorizado. Assim, não apoiar campanhas contra o preconceito, aumenta a desigualdade. O silêncio e a apatia nesse caso só contribuem para a violência.
 
Qualquer pessoa inteligente e sensível sabe que, em termos da epidemia de Aids, quanto mais conservadoras são as campanhas, mais vulneráveis estão as pessoas, sejam HIV positivas ou não. A ideia do “câncer gay” ganhou o mundo sob essa mesma lógica que hoje o Brasil vem vergonhosamente adotando: achar que dá para prevenir sem enfrentar o estigma da doença, e sem buscar destruir o preconceito que sofrem os estilos de vida que culturalmente foram associados a ela.
 
Em vez de focarem em mais campanhas que enfrentem o preconceito e ampliar a prevenção também para os casais heterossexuais, que sob a lógica frágil e perigosa do amor romântico e da sonhada monogamia têm se infectado cada vez mais, o Brasil apela para posturas perversas de censuras que evidentemente tornaram as pessoas ainda mais vulneráveis.
 
Se, como disse o Ministro Padilha no seu Twiiter, a censura à campanha foi um ato de “bom senso”, começo a entender que o “bom senso” dele não tem nada a ver com o meu e o de tantas outras pessoas que se indignaram com essa afronta a história de prevenção às DST/Aids no país. Acho que talvez o Feliciano tenha razão ao classificar o ministro no seu facebook como um “homem de bem”. São mesmo de “homens de bem” como eles que o Brasil está cheio, por isso, temos que temê-los, mas também enfrentá-los. Essa é o tipo de bondade que não precisamos, que gera a morte e promove o estigma. 
 
Esse enfrentamento, em uma sociedade democrática como a nossa, passar pelo desafio de não nos esquecermos que há fortes e evidentes pretensões políticas de quem está no poder em não sair de lá. Então, haja memória para podermos não nos esquecer de tudo isso. De quem se junta com quem, de quem cesura o que, e de quem se diz comprometido com um Brasil para todos, mas na verdade governa para os mesmos, e, pior, com valores cada vez mais autoritários e conservadores.
 
Em vez de acharmos que assim não dá pra sermos felizes, precisamos mesmo reafirmar a nossa alegria, sem deixar de lutar contra quem quer nos convencer de que estamos em um país que respeita as diferenças, governados por quem se preocupa com as “minorias”. 
*Tiago Duque é sociólogo e tem experiência como educador em diferentes áreas, desde a formação de professores à educação social de rua. Milita no Identidade – Grupo de Luta Pela Diversidade Sexual. Gosta de pensar e agir com quem quer fazer algo de novo, em busca de um outro mundo possível.
 
 

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