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Psicólogo Pedrosa Responde: Não consigo namorar outros homens por muito tempo, e agora?

Eu tenho uma questão que está me preocupando muito na fase atual de minha vida. Sou homossexual assumido e tenho encontrado muita dificuldade em estabelecer vínculos mais duradouros com os homens que surgiram em minha vida (que não são muitos). Tenho tentado de várias formas, sempre sem sucesso.

A minha pergunta é: quais as possíveis variáveis envolvidas nessa dificuldade, considerando a sua perspectiva teórica? Em outras palavras… Eu queria saber se, além de dificuldades aprendidas na minha história de vida, existem também razões que envolvam as práticas culturais da comunidade gay e as determinações biológicas específicas da masculinidade. Emerson (São Paulo – SP)

Com relação a minha perspectiva teórica, o meu trabalho é referenciado na vasta obra do psicólogo norte-americano B. F. Skinner (1904 -1990). Skinner foi um dos pioneiros em ciência de base relacionada à pesquisa na psicologia experimental, notadamente na área de aprendizagem formulando o conceito de comportamento operante. Podemos afirmar que ele foi do ponto de vista da ciência o mais importante estudioso contemporâneo do comportamento.
 
É considerado o fundador de uma nova ciência relacionada à compreensão de como os organismos se comportam, que se chama Análise do Comportamento. Muito conhecido no meio acadêmico (é o psicólogo com mais citações em trabalhos científicos), ele é pouco divulgado pela mídia leiga. Talvez pela dificuldade de entendimento das suas obras escritas numa linguagem científica pouco comum ao grande público ou talvez pelas suas ideias revolucionárias sobre a origem do comportamento que se contrapõem às teorias da psicologia tradicional – reforçadas desde a antiguidade -, de que os comportamentos se originam na mente.
 
Skinner nega a existência de uma mente como agente iniciador do comportamento. Para ele, a origem do comportamento se dá na relação do organismo com o seu ambiente, através das contingências de reforço. É aí que se estabelecem as bases do comportamento/aprendizagem. Essa premissa científica não é nada sedutora para uma cultura como a nossa controlada pelo subjetivismo, pelos dogmas religiosos, pelas superstições, enfim, pelo sobrenatural. Para uma cultura que acredita em espírito, alma, duende, gnomo, demônio, astrologia, entre outras entidades criadas pelo próprio homem, fica difícil a compreensão do comportamento em base científica e ateísta.
 
Emerson, com relação a sua dificuldade em estabelecer um vínculo, são muitas as variáveis que poderão estar envolvidas. Cada caso é um caso, não podemos generalizar. Para melhor compreensão do seu caso seria necessário ter o seu relato de como foi a sua história antecedente. A partir daí levantaríamos algumas hipóteses. Mas vão algumas dicas para você fazer uma autoanálise.
 
Entendemos que os nossos comportamentos são selecionados pela sua ação reforçadora através de três níveis de seleção: 1. filogênese (evolução da espécie: história genética da espécie transmitida de geração em geração – o que você chamou de determinação biológica); 2. ontogênese (evolução individual: influências sofridas pelo indivíduo através do meio em que foi criado – o que você chamou de aprendido); e 3. práticas culturais (evolução cultural: práticas que foram selecionadas ao longo da história que têm uma ação reforçadora em determinada cultura – o que você chamou de práticas culturais da comunidade gay). As variáveis controladoras do comportamento são estabelecidas a partir desses três níveis.
 
No caso da homossexualidade, que é uma orientação sexual que foi selecionada há milhões de anos (não se sabe ainda qual a sua função na evolução da espécie), ela sofre influência dos três níveis de seleção.
 
A filogênese determinou a homossexualidade ao longo da história das espécies no planeta. Aqui temos a questão da sua origem e também a questão de gênero – o que você chamou de masculinidade. O homem seja hétero ou gay filogeneticamente é poligâmico. A monogamia foi selecionada pela cultura tendo como funcionalidade o controle social visando a manutenção da família. Daí a dificuldade de manter-se a fidelidade e o vínculo. Para ampla maioria dos homens gays esta dificuldade ainda é maior porque eles não constituem família, não estabelecendo um vínculo maior, como por exemplo, os filhos. Podemos ressaltar, ainda na questão da filogênese, a suscetibilidade maior existente nos organismos do sexo masculino, seja hétero ou gay, para terem mais relações sexuais.
 
A ontogênese determina como o meio em que se vive – a família, por exemplo -, influencia na maneira de cada um se comportar. É a história de vida bem particular de cada um de nós, as nossas vivencias e aprendizagens.
 
A prática cultural influencia sobremaneira o nosso comportamento. Regras são estabelecidas pelas religiões, estado e educação determinando a nossa maneira de agir. E muitas dessas regras se tornam autorregras, ou seja, as incorporamos e passamos a nos comportar controlados por elas.
 
Por causa da homofobia, que é determinada culturalmente, a imensa maioria dois gays não estabelece um vínculo maior nas suas relações afetivas onde o sexo casual e anônimo passou a ser uma prática comum; vide saunas, banheirões, clubes de sexo, entre outros. O vínculo duradouro fica difícil de ser estabelecido por causa da prática clandestina da homossexualidade.
 
Emerson, finalmente, penso que a homofobia é uma variável importante, entre outras aqui citadas, que impede que os gays vivenciem livremente a sua sexualidade, dificultando assim o estabelecimento de um vínculo maior nas suas relações.

* João Batista Pedrosa é psicólogo (CRP 06/31768-3) e autor do livro "Segundo Desejo" (Iglu). Envie suas dúvidas e perguntas para pedrosa@syntony.com.br. Acesse também seu site.

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