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Psicólogo Pedrosa Responde: Tenho medo de me perseguirem por ser gay. O que faço?

Seguinte: tenho 27 anos e moro em Salgueiro – PE, uma típica cidade do interior. Já não tenho mais dúvidas quanto à minha orientação sexual. Mas isso tem me deixado desesperado, porque minha família, meus amigos, meus colegas de trabalho, enfim, todos na minha região são homofóbicos. Já sonhei muito com uma carreira universitária, mas quando penso na minha situação, só vejo uma saída: a conquista de um emprego estável, mediante concurso público, mesmo que isso sacrifique minha satisfação profissional. Pela privação sexual – e psicológica – que venho sofrendo por mim mesmo, já não consigo mais nem dormir direito. Não estou conseguindo mais sequer ter a devida concentração nos estudos, a fim de conseguir a tão sonhada vaga no setor público. Estou desesperado, achando que felicidade não é coisa pra homossexual. Confesso que estou perdendo a alegria de viver. Clamo por ajuda! O que eu devo fazer? Eduardo (Salgueiro – PE)
                                                
Eduardo, vivemos num mundo onde o preconceito contra a pessoa homossexual é muito grande. Apesar de já notarmos mudanças significativas deste panorama, principalmente, nas grandes cidades. A mudança se traduz numa maior visibilidade para o homossexual. E alguns avanços na esfera do poder judiciário e do executivo em nível federal. O que não ocorre no legislativo.

Apesar dos pequenos avanços, as práticas culturais no Brasil continuam alicerçadas numa homofobia com raízes profundas. O ódio pela homossexualidade é alimentado pelas posições retrógadas da Igreja Católica e dos evangélicos. A cruzada dos religiosos contra os homossexuais na mídia confunde a população quando relacionam algo que não pode ser relacionado como homossexualidade e pedofilia, por exemplo. Estes posicionamentos refletem junto à população, reforçando a homofobia.

Recentemente, conversando com um gay vindo de uma cidade do interior do Pará, ele me relatou como a situação dos homossexuais nestes rincões do Brasil é lastimável. Falou-me do caso de uma jovem lésbica que resolveu assumir sua  homossexualidade. Ela, simplesmente, sumiu da cidade por causa da perseguição e das ameaças que recebeu. Então, é muito difícil para um homossexual viver no interior do país. O que faz com que muito gays migrem para a cidade grande para poderem vivenciar a sua homossexualidade sem ser perseguidos e até para conseguirem um parceiro sexual ou namorado.

Esta situação gera uma desesperança em muitos gays. No seu caso penso que deverá existir uma saída. Você vive numa cidade do interior do estado de Pernambuco com 55 mil habitantes. Imagino como deve ser penoso para um gay viver em Salgueiro. Pernambuco, em 2008, foi o campeão brasileiro em assassinatos de homossexuais. Foram 28 casos segundo dados do Grupo Gay da Bahia. Talvez, seja o caso de você pensar na possibilidade de fazer uma carreira profissional numa cidade maior, numa capital. Assim ocorrendo, haverá possibilidade de você encontrar um parceiro e ter uma vida sexual. A privação sexual pode gerar uma série de efeitos colaterais e em alguns casos desencadear distúrbios comportamentais e psiquiátricos.

De imediato, para aliviar o seu estresse, penso que você deve buscar novos reforços positivos. Buscar fazer coisas que você gosta nas horas vagas e no lazer. Nos finais de semana sair um pouco da sua cidade e ir até Recife. Construir uma rede social de amigos gays na capital e ir visitar esses amigos periodicamente, acho que seria muito bom para você. Através da internet você pode fazer os primeiros contatos. Não desista. Ser gay é muito bom. Você só precisa descobrir como vivenciar sua sexualidade. Pense em outras coisas que você pode fazer a partir das dicas que te dei. Boa sorte!

*João Batista Pedrosa é psicólogo (CRP 06/31768-3) e autor do livro "Segundo Desejo" (Iglu). Envie suas dúvidas e perguntas para pedrosa@syntony.com.br. Acesse também seu site.

Livro “Batons, Assassinatos e Profetas” retrata mundo trans da Turquia

DIVA edição Parada 2010