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Quando a homofobia e a transfobia afetam os heterossexuais e os cisgêneros?

Engana-se quem pensa que lutar contra a LGBTfobia é um lutar contra uma violência voltada apenas a diversidade sexual e de gênero. Afinal, a homofobia e a transfobia também afetam muitos heterossexuais e cisgêneros (pessoas que não são trans).

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São inúmeros os casos em que o preconceito se resvala em quem por ventura sequer tem contato com a comunidade LGBT. Seja por uma questão de aparência, comportamento ou por puro preconceito.

O caso mais conhecido ocorreu em 2011, quando um pai que teve a orelha decepada em São João da Boa Vista, interior de São Paulo, só porque estava abraçado ao filho de 18 anos. Eles foram abordados por um grupo, que questionou se eles eram gays e, mesmo na negativa, os agrediram. Quando o pai acordou, ele estava sem a orelha.

A homofobia também fez de vítima o jornalista Fernando Soares (foto), que é heterossexual. Ele apanhou de três homens dentro de um bar na Lapa, Rio de Janeiro porque eles acharam que ele fosse gay.

"Fui ao banheiro e, quando voltei, eles disseram que não toleravam viadagem. Olhei e falei: 'Que preconceito é esse?'. E eles já me socaram, caí, bati a cabeça e desmaiei".

SIM, ATÉ NA IGREJA

É comum escutarmos que as igrejas devem ter a liberdade religiosa de pregar contra a homossexualidade – mesmo que na prática o discurso seja praticado contra as pessoas homossexuais.

E para ficar evidente como ocorre esta prática destacamos o caso que ocorreu em 2013, durante uma manifestação organizada por Silas Malafaia em Brasília. Um pastor heterossexual da Igreja Quadrangular foi confundido com um ativista gay e acabou sendo retirado à força do palco.

A agressão ocorreu pelo fato de o pastor portar uma bandeira da denominação, que tem as cores roxa, vermelha, amarela e azul, o que fez os fundamentalistas confundirem com a bandeira do arco-íris, símbolo do movimento LGBT.

Durante a retirada do pastor, o discurso aos berros era de que eles lutavam pela "liberdade de expressão" e "pela família tradicional". Tempos depois, o pastor foi levado de volta ao palco e a organização declarou que "houve um mal entendido".

Assista:

VIOLÊNCIA A HÉTEROS POR HOMOFOBIA

Em 2012, os irmãs gêmeos José Leonardo da Silva e Leandro foram agredidos por homofóbicos ao saírem abraçados de uma festa em Camaçari, em Salvador. José recebeu várias pedradas na cabeça, não resistiu e morreu. O irmão foi hospitalizado, teve alta, mas alega que terá sequelas psicológicas pelo resto da vida.

Em Gastão Vidigal, em São Paulo, o adolescente Renato Duarte Horácio (foto) de 16 anos foi morto a socos por Fabrício Avelino de Almeida em 2013. Segundo o amigo Márcio, a confusão começou porque eles tinham o costume de andar abraçados. "Devem ter pensado que nós éramos homossexuais", disse.

O homem deu vários socos na cabeça do adolescente em frente de policiais, foi preso em flagrante, mas responde em liberdade

Em 2011, um jovem de 20 anos foi agredido em São Paulo por estar na companhia do irmão héteros e de um amigo homossexual. Ele foi perseguids por 10 pessoas, teve três fraturas no rosto e ficou desacordado por três horas. "Entrei no bar para usar o banheiro e quando voltei estava começando a confusão. Meu intuito foi tirar o meu irmão, que foi agredido depois de dar um abraço no amigo", contou em reportagem.

Em 2011, o arquiteto Bruno Chiarioni Thomé (foto), de 33 anos, sofreu agressão de homofóbicos próximos da Estação Consolação do metrô de São Paulo porque ele e o amigo foram confundidos com gays. A vítima levou sete pontos na cabeça, quebrou o dedo, ficou com cortes e hematomas espalhados pelo corpo. "A gente deduz que era homofobia pelos xingamentos. Não havia nenhum outro motivo".

E como a homofobia não é só uma agressão, um caso de agressão verbal e intimidação ocorreu neste ano com o ator Ricardo Ferreira, que interpretava um homem homossexual na novela "Vitória", da Rede Record. Ele foi hostilizado e ameaçado durante uma viagem de ônibus de Campo Grande até Vargem Pequena. O motivo? Ele foi confundido com o seu personagem.

TRANSFOBIA AFETA MULHERES CIS

Muitas mulheres cisgêneros sofrem transfobia quando tem a identidade de "mulher" questionada – exatamente como ocorre com as travestis e mulheres transexuais. Já aconteceu com a cantora e humorista Ximbica, que recebeu ovadas e xingamentos por se assemelhar a uma travesti, em São Paulo.

E também coma comissária de vôo Geilsa da Mota (foto), que foi perseguida por dois homens ao ser chamada de "travesti". Os transfóbicos, Ricardo Alexsandro Reis, um estudante de 25 anos, e Marcelo Rosa Santos, mecânico de 29 anos, alegavam que ela era travesti e que estava devendo dinheiro a eles.

Eles agrediram Geilsa depois de ela sair de uma casa de shows e, para se livrar de novos golpes, ela fingiu estar desmaiada. "Um dos dois pensou que eu estava morta e mudou de atitude. Ele queria se livrar do meu corpo, foi nessa hora que a polícia chegou, eu não sei quem chamou".

São por esses e outros exemplos que a homofobia e a transfobia afetam, sim, outras pessoas além dos LGBT. Afetam a todos, é um problema de todos, sobretudo daqueles que fogem (mesmo sem querer) à pseudo-normatividade, que dão um abraço carinhoso em seus amigos, em seus familiares e que não correspondem à arcaica e ultrapassada norma de gênero, aparência e de comportamento.

É por esse motivo e outros que todos devem dizer não a homofobia e a transfobia. O jornalista Fernando, que teve uma concussão cerebral e que fraturou a mandíbula, declara: "Os legisladores precisam criar leis mais duras contra a homofobia e qualquer tipo de preconceito".

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