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Roteirista explica origens de gírias gays na Turma da Mônica

Emerson Abreu tem 34 anos e há 13 escreve roteiros para a Turma da Mônica. Nascido no Rio, crescido em São Paulo e atualmente morador da cidade de Jundiaí, o rapaz mantém um blog onde fala de música, vídeo-game e, como não poderia deixar de ser, quadrinhos.

Após uma polêmica com a publicação de uma matéria no site A Capa sobre gírias gays no número 5 da revistinha Turma da Mônica Jovem, a reportagem entrou em contato com o cartunista para que ele desse seu ponto de vista sobre a questão e falasse sobre a personagem Denise, que acabou adotando como sua preferida.

Em entrevista exclusiva, Emerson explica a origem da personalidade de Denise, influenciada por elementos como a cena clubber paulistana da década de 90 e até a drag Silvetty Montilla. O roteirista fala ainda sobre a aceitação da personagem, o preconceito dos jovens leitores e dá dicas para quem se interessa e quer trabalhar na área de quadrinhos.

Fale um pouco sobre você.
Eu tenho 34 anos, nasci no Rio de Janeiro, cresci em São Paulo e atualmente moro em Jundiaí. Não fiz faculdade (sou contra esse tipo de "formalidade" para a classe artística), mas fiz alguns cursos de desenho e roteiro aqui e ali. Não sou casado, mas estou num relacionamento sério há quase cinco anos.

Há quanto tempo escreve roteiros para HQ?
Escrevo roteiros pra Turma da Mônica há 13 anos, então tem toda uma geração aí que cresceu lendo minhas histórias. 

Além de fazer os roteiros, também desenha?
Sim. Antes de ser contratado pela Maurício de Sousa Produções eu trabalhava como ilustrador num estúdio de publicidade. Para a MSP eu ilustrei o livro "O Gênio e as Rosas" (com textos de Paulo Coelho), criei uma série de estampas para o estilista Thiago Marcon do Projeto Fábrica Morumbi Shopping e também ilustrei alguns contos que saíram publicados em livros e gibis.

Como ingressou na carreira?
O pontapé inicial foi um curso de quadrinhos que eu fiz aos 17 anos ministrado por Klebs Júnior (atualmente um dos diretores da Escola Impacto de Quadrinhos). Ali eu tive meu primeiro contato com profissionais do ramo e percebi que faria isso pelo resto da vida. Depois de passar um tempo desenhando para editoras menores, eu trabalhei durante três anos como ilustrador no Núcleo de Arte. Por fim, aos 21 anos, mandei um portfólio pra MSP e estou lá desde então criando histórias em quadrinhos e escrevendo roteiros de desenhos animados para cinema e DVD.

O que serve de inspiração na hora de escrever uma história?
Qualquer coisa pode virar uma história. Você pode ter uma ideia enquanto assiste a um filme, no meio de uma conversa de bar ou jogando vídeo-game. No entanto, a maioria das minhas histórias vem de fatos que aconteceram na minha infância, então quanto mais experiência de vida, mais assunto você vai ter para escrever. Mas o mais importante mesmo é ler muito, não importa o que seja (livro, gibi, jornal ou até mesmo um blog na internet), desde que você esteja sempre alimentando sua mente com informações novas. 

Fale um pouco da sua relação com a Denise.
Antes de eu "adotá-la" como personagem favorita, a Denise era apenas uma coadjuvante das histórias da Magali criada pela roteirista Rosana Munhoz na década de 80. Mas até então ela não tinha uma personalidade bem definida (e nem mesmo um visual padronizado), só aparecia de vez em quando fazendo fofocas e criando intrigas entre as meninas. Na década de 90 eu achei que a personagem poderia render mais se tivesse um pouco mais de atitude, já que papas na língua ela não tinha mesmo. Nessa época, a cultura clubber estava no auge e eu resolvi enriquecer o seu vocabulário com algumas gírias para mostrar que ela era uma menina mais antenada com o mundo atual (e também porque eu achava engraçado o fato de ninguém entender absolutamente nada do que ela dizia). Expressões como "Se joga", "Acredita no bate-cabelo" e "Abafa o caso" começaram a brotar nas revistinhas bem antes de caírem no gosto popular.

Com o passar dos anos ela se tornou a mais autêntica das personagens da Turma da Mônica, sem medo de falar o que vem à cabeça, às vezes irônica e sarcástica, sua sinceridade machuca e é interpretada erroneamente como "grosseria" por alguns leitores. Enquanto as outras meninas do gibi são românticas, meigas e sonhadoras, a Denise tem uma visão mais cínica em relação ao mundo, é mais inteligente, descolada e realista. Entretanto, ela não é perfeita, ela erra (e erra muito), mas nesse caso ela sempre quebra a cara e aprende sua lição no final da história. É a velha fórmula de mostrar bons exemplos através de contra-exemplos.

Hoje em dia eu utilizo a personagem como uma espécie de válvula de escape. Tem muita coisa que eu vejo por aí que me incomoda. A sociedade ensina às crianças que é "normal" levar uma vida fútil baseada em status e desperdiçar seu tempo preocupado com "o que os outros vão pensar". A Denise vem na contramão desse comportamento, mostrando que é muito mais saudável levar uma vida autêntica e sem mentiras, doa a quem doer. Tem gente que me condena por colocar minhas opiniões desse modo nas histórias, mas é da natureza de qualquer escritor ser crítico e inconformado com o mundo. Roteiristas têm a obrigação de serem relevantes e precisam ter algo a dizer. Se você quer ingressar no ramo só porque gosta de ler quadrinhos é melhor que fique apenas lendo mesmo. Não há sentido nenhum em entrar nessa se você não vai trazer nada de novo pra indústria.

A personagem é gay?
Não, a Denise não é gay. Ela só se interessa por homens mesmo. Ela já namorou o Ricardinho e hoje em dia tem um leve interesse pelo Titi.

Há possibilidade de surgir um amigo gay da Denise?
Bom, eu não posso falar pelo Maurício, mas na minha opinião é muito difícil. O fato é que o grande público ainda não está pronto para aceitar um personagem assim. Suponho que a culpa venha da formação retrógrada que os filhos recebem dos seus pais. Eles têm uma visão muito estreita do que consideram "bom para a criança ler". Lembro de uma ocasião em que eu escrevi uma história da Magali sobre reencarnação. Os pais católicos odiaram! Acharam que eu estava colocando conceitos religiosos deturpados na cabeça dos seus filhos. Já os espíritas adoraram e até utilizaram esse roteiro para explicar às crianças, de um modo simplificado, o que é reencarnação. Houve também, o caso da história da separação dos pais do Xaveco. Muita gente dizia que era um absurdo abordar um tema tão polêmico numa revista voltada ao público infantil! Em contrapartida, as mães separadas elogiaram a iniciativa porque seus filhos sentiam-se alienados lendo as histórias da Mônica, onde toda família era perfeita e todo mundo tinha pai e mãe!

Se esses dois casos causaram toda essa celeuma, imagine só o que um personagem gay causaria…

Apesar das gírias gays já estarem inseridas na sociedade devido ao espaço na mídia, como você tomou conhecimento delas?
Eu sou gay assumido desde os 21 anos. Nessa época eu acabei conhecen

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