in

Só para íntimos

No tempo da minha avó só se mostrava a batata da perna (escondida debaixo de um vestido com nada menos do que sete camadas) ou se pegava na mão quando havia muita intimidade. Para isso, tinha que se casar. No tempo da minha mãe, ainda com resquícios da geração anterior mas com o advento da revolução hippie, o negócio era mais direto: o suspense pairava sobre os órgãos sexuais atrás do biquíni. Ter intimidade significava conhecer alguém legal, não necessariamente estar casado mas envolvido, para depois fazer uma farra no motel. Hoje, com a fornicação liberada – está aí o carnaval que não me deixa mentir, ficando tudo à mostra – resta a dúvida: o que esconder para criar intimidade? Para responder esta questão, outra pergunta: você lembra – ou pelo menos já procurou saber – o nome do cara com quem transou pela última vez?

Felizmente, não se trata de um vestibular do sexo. Mas o fato é que muita gente por aí mente sobre a verdadeira identidade. Seja por insegurança, vontade de não se expor ou simplesmente por não querer intimidade. Preservam o nome, mas não o pau. Assim, mantêm o anonimato. Beijar, transar horrores a noite toda, dormir de conchinha e depois acordar descabelado emanando um bafo de "bom dia" não necessariamente quer dizer que haja intimidade. Os tempos são outros. Nos sites de relacionamento, por exemplo, dialoga-se com pseudônimos de bundas, pintos e peitos que andam por aí separadamente ou, quando juntos, num corpo sem a cabeça superior. Já em chats, é muito comum obtermos respostas de imediato para perguntas do tipo: Ativou ou passivo? Quantos centímetros? É grosso ou fino? Prefere de ladinho ou frango assado? Curte que gozem na sua boca ou no peito? Já fez sexo com mais de três? É comum também conseguir telefone, endereço e até o local de trabalho do sujeito para uma possível fast-foda. Mas a cerimônia tão ausente até então se faz logo presente com a pergunta mais complexa e descarada de todas: qual seu nome? "Não falo, é íntimo demais" – muitos dizem depois de revelar barbaridades. E, no caso de falarem o nome logo de cara, desconfie.

Certa vez, um amigo (muito ingênuo por sinal) foi fazer um "delivery" de madrugada na casa de um cara, mas chegando no prédio, depois de interfonar e ninguém responder, o porteiro perguntou pelo nome do morador. "Gustavo" – respondeu o amigo com convicção. "Mas quem mora lá é o Edson" – retrucou o porteiro para espanto imediato do rapaz. O mesmo amigo, em outra ocasião, só foi descobrir o verdadeiro nome do cara com quem saía há dois anos (!!!), por acaso, na academia onde malhavam. A recepcionista tinha se apaixonado pelo cara e perguntou a meu amigo o nome dele para pegar seu telefone no cadastro. "Henrique Almeida, procura aí"- disse ele. "Com esse sobrenome só tem um tal de João" – respondeu a mulher minutos depois para novo trauma do rapaz. "Da próxima vez que sair com alguém – disse ele – vou pedir o RG e, se possível, o CPF originais".

Companheiro de ex-servidor público ganha pensão vitalícia na justiça

Festa de despedida reúne elenco de L Word