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“Temos poucas coisas no Brasil que geram reflexão”, diz Klécius Borges

O psicólogo Klécius Borges escreve há mais de cinco anos para a Revista G sobre relacionamentos entre homossexuais e, esse trabalho, acaba de ganhar um livro. "Desiguais", que reúne seu artigos, será lançado na livraria Fnac do Barra Shopping, em Porto Alegre, amanhã (dia 29 de novembro), às 19h.

Com o convite da editora Fábrica de Leitura, um desejo antigo virou realidade. Klécius foca seu trabalho nos relacionamentos, ele conta que o tema citado entre as pessoas é a busca "por um relacionamento", porém, o que mais acontece "é a briga entre uma coisa que é idealizada daquilo que eu gostaria de ser e uma briga com aquilo que sou". Confira a seguir a entrevista com o autor. 

Como surgiu a idéia do livro?
Esse livro é um projeto antigo, eu tenho uma coluna na G há muitos anos e eu já tinha essa idéia há muito tempo, fazer um livro que fosse uma coletânea. Aí surgiu essa oportunidade com o convite da editora Fábrica de Leitura, então, isso veio atender um desejo meu. Porque acho que a internet é uma coisa e o livro é outra. 

Qual o objetivo do livro?
A meta é divulgar o trabalho que desenvolvo há muitos anos e a internet tem um determinado público que a pessoa pode ler uma vez, ler de novo, lembrar da coluna ou pode não lembrar. E o livro é uma coisa um pouco diferente.

Acredita que com o livro você pode atingir outro público?
Ah sim, você atinge um público muito diferente. Na G online você tem uma coisa muito especifica e embora o tema da coluna seja sobre um universo gay, mas principalmente com um tema sobre o humano, coisas que todos nós enfrentamos, o livro então amplia a possibilidade de você ter outros públicos.

Além dos seus artigos, há textos inéditos?
Não, o livro é só uma coletânea. É uma escolha, pois tenho mais de cinco anos de coluna. Então, a gente escolheu 36 textos que acredito serem mais significativos.

Dos textos selecionados, tem algum que você destaca?
Eu diria pra você assim: quando eu escrevo sobre relacionamento eu tenho uma resposta mais imediata dos leitores e, dentro desse universo, talvez o tema do relacionamento é o que gera o retorno mais imediato, é o que o mais gosto e também as pessoas são mais desejosas em ler, como arrumar namorado… esse tipo coisa.

Dentro desse universo que você trabalha e analisa, acha que os relacionamentos estão mais conservadores hoje em dia?
Não. Têm de todos os tipos. Têm as pessoas mais conservadoras e as pessoas que são menos conservadoras. Eu também diria assim, pode haver um discurso mais conservador em alguns setores, mas esse discurso não necessariamente se reflete na prática. Tem os que falam que são monogâmicos e não são, existe aqueles que gostariam de ser. O que mais tem na minha coluna é a briga entre uma coisa que é idealizada daquilo que gostaria de ser e uma briga com aquilo que sou. Você pode observar muito isso nos perfis virtuais das pessoas, que é onde ela idealiza aquilo que ela gostaria de ser.

O seu livro pode ajudar pessoas no que diz respeito a esclarecimentos em determinados assuntos da vida?
As colunas normalmente são de uma maneira geral uma coisa que gera reflexão, pois são temas humanos dentro do contexto gay. Quando estou falando de amor, estou falando de dois homens. Então acredito que os meus textos se propõem a reflexão e o público gay carece muito disso, temos poucas coisas no Brasil que geram uma reflexão um pouco mais profunda. Acredito que a minha coluna cumpre um papel há muitos anos e com livro acredito que vai ser uma coisa legal.

Você tocou no tema carência. Tem algum tipo de carência mais comentada entre os seus pacientes?
O que eles mais falam é a dificuldade de conseguir um relacionamento, tem todo um mito na comunidade ligada a sexo que não é verdade, é uma questão mais complicada. Boa parte das pessoas que escrevem e que procuram, procuram com essa questão: porque a gente tem quer arrumar um namorado, mas tem muita putaria. Essa é a queixa geral. Aí você entra lá no Disponivel e você lê: quero namoro sério ou sexo muito jovem. Ou seja, é um pouco amplo, você quer qualquer coisa? E depois a pessoa fala que está difícil. Entende porque incongruência do que diz que quer e aquilo que faz.

Se você pudesse presentear alguém com esse livro, para quem você daria?
Daria para alguém que tivesse uma capacidade de divulgar esse tipo de visão afirmativa na questão da homossexualidade. Algum cara da área de comunicação, da mídia e que essas coisas pudessem ser faladas de uma outra maneira. 

O Marcelo Crivella deveria ler o seu livro?
Não, porque eu acho que esse tipo de gente não muda a sua visão lendo um trabalho como o meu, pelo contrário, reforça a sua própria visão. Não é um trabalho que pretende catequizar, é um trabalho que pretende mostrar um lado da humanidade e das pessoas universais. Ele vai ler aquilo com o olhar do preconceito. Por isso falei pra você da mídia, o que está acontecendo na novela das oito hoje é muito mais importante do que qualquer outra coisa que pode acontecer. É interessante que entra na casa das pessoas e pega pelo coração e não pelo discurso político, pega pelo tema do amor.

O Brasil está mais ou menos intolerante?
O nível de tolerância aumentou bastante. Em São Paulo temos um monte de coisa acontecendo. Hoje temos grandes Paradas, grandes movimentos, você tem o tema sendo discutido na televisão. Agora isso não significa que a homofobia tenha sido reduzida. Continua havendo discriminação, um monte de gente continua apanhando e morrendo por causa disso. Mas, do ponto de vista do coletivo, mudou bastante, na capacidade da sociedade de tolerar esse tema.

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